27/04/2025
Margherita tinha 45 anos e tinha medo de gatos.
Todas as manhãs fazia a sua caminhada por um trilho no campo.
Foi o médico que lhe aconselhou:
“É ótimo para a circulação das pernas.”
Sempre caminhava pelo mesmo trecho, ao lado de uma estrada onde, apesar dos limites, os carros passavam como foguetes.
Naquela manhã, enquanto o sol atravessava as árvores e o ar cheirava a erva molhada, um som suave lhe apertou o coração.
Um miado.
E como um soco no estômago, voltou aquela memória da infância.
Tinha cinco anos.
O primo Salvatore, em tom de brincadeira, atirou-lhe o gato da avó para cima.
O gato agarrou-se com as unhas, arranhando-lhe os braços.
Margherita gritou, chorando de medo.
Desde esse dia, evitou gatos como se fossem um verdadeiro perigo.
Nem as amigas conseguiam convencê-la:
“Desculpa, não posso entrar se o gato estiver solto…”
Mas aquele dia era diferente.
Porque ali, à beira da estrada, estava um gatinho assustado.
Pequenino, a tremer.
Com aqueles mesmos olhos que antes lhe davam medo.
Mas agora…
Agora causavam pena.
“Com certeza foge se eu me aproximar…”
Mas não fugiu.
Ficou ali, parado, como se estivesse à espera dela.
Margherita congelou.
O coração batia-lhe com força, não sabia o que fazer.
Ligou ao marido, Angelo.
“Há um gatinho na estrada, estou com medo, podes vir?”
Mas Angelo estava longe.
E naquele instante apareceu um carro ao longe, a alta velocidade.
Não pensou.
Não refletiu.
Seguiu apenas o instinto.
Correu. Pegou nele ao colo. Apertou-o. E refugiou-se no trilho.
O coração estava-lhe na garganta… mas algo tinha mudado.
O gatinho ronronava.
Um som doce, contínuo, como se dissesse:
“Obrigado.”
Margherita acariciou-o com as mãos a tremer.
E sussurrou:
“Calma, pequenino… agora tens-me a mim.”
Quando Angelo chegou, levaram-no juntos ao veterinário.
O gatinho —que Margherita chamou de Asso— estava bem, apenas um pouco desidratado.
“Ficamos com ele?” perguntou Angelo.
Margherita abanou a cabeça.
“Não… ainda tenho muito medo. É melhor deixá-lo aqui.”
E no entanto, ao assinar os papéis para deixá-lo ao cuidado do abrigo, sentiu uma dor no peito.
Uma sensação de vazio.
Como se algo não estivesse certo.
Entrou no carro. Ficou em silêncio.
Depois disse, baixinho:
“Angelo… não consigo. Não posso deixá-lo lá.”
“Mas… e o teu medo?”
“Posso enfrentá-lo. Já o fiz uma vez.”
Nessa noite, Asso entrou na sua nova casa.
A recebê-lo estavam as filhas, Matilde e Gioia.
“Mas mãe… sempre disseste que tinhas medo!”
“E era verdade.
Mas sabem… às vezes o medo paralisa-nos.
Faz-nos perder oportunidades, afeto, amor.
E não o podemos deixar vencer.”
Os meses passaram.
Asso tornou-se num gato lindo, carinhoso, doce.
Todas as noites dormia nas pernas de Margherita, que agora o procurava mal chegava a casa.
E cada vez que o olhava, pensava no tempo perdido por causa de uma dor antiga, nunca enfrentada.
E então Margherita percebeu:
“Se hoje venci o meu medo…
foi graças a uma patinha trémula e dois olhos cheios de confiança.
Às vezes, para curar uma ferida,
basta parar de olhar para o lado errado.”