08/10/2020
Atenção Sumaré!
será que você está bem? será que comeu? bebeu água? dormiu? será que teve alguém pra te acalmar à noite, quando você acorda assustada?
ou será que você foi embora para partir em paz? não sabemos como o portão estava aberto. era só mais um domingo de manhã, você deitada na sua caminha.
eu não sei se o seu coraçãozinho - tão pequeno, tão corajoso - ainda bate, meu amor. eu não sei se vou te ver de novo.
eu quero tanto te deixar ir, se você tiver mesmo partido. eu faria de tudo por você, até mesmo isso. eu te amo muito, eu te amo tanto. não só porque você foi o único conforto que tive, não só porque muitas vezes disse pra você que doía, que eu doía tanto. e você estava lá, você sempre estava lá. eu não te amo só porque você foi o único ser por muito tempo para quem tive coragem de ser vulnerável, de oferecer amor e carinho. eu te amo infinito porque você é você. a rebeca sapeca levada da breca, corajosa, caçadora de ratos e baratas, desengonçada, devoradora de pipoca e aspirador de migalhas, minha pinscher-vira-lata, carinhosa, que pulava em todos os colos disponíveis. que me deixava limpar seu olho machucado, chorando, mas parada feito uma estátua. a vontade do petisco era maior do que a dor, não é, meu amor? e eu te amo mesmo você sendo a maior interesseira, indo atrás de minha mãe só porque era ela que te colocava ração. eu te amo porque você era terrível e me acordava à noite para te cobrir. chorava deitada na cama sabendo que, sim, eu faria tudo por você. até te deixar na casa dos meus pais, mesmo que isso machucasse o meu coração, porque era melhor pra você.
não sei se você se foi. eu queria ter visto, assim como te vi nascer. queria ter te dado todo o carinho e conforto que você merece. como daquela vez que seu olhinho encheu de pus até estourar, e nós ficamos a madrugada toda sentadas no chão, você grudada em mim até se acalmar, até a dor passar. eu queria ter segurado sua patinha grande demais pro seu corpo, feito carinho nos seus dedos tortos enquanto você ia pra outro lugar.
e eu nem sei se você foi. eu não sei se você está na casa de alguém ou em algum lugar parecido com o céu de cachorro, com pipoca e miolo de pão a vontade.
eu não sei onde você está. o que eu faço com meu coração agora? não tão corajoso quanto o seu...